20 de fevereiro de 2010

Impermanência¹

 

Desapego é relacionado a doação.
Desapegar-se doando aquele bem material que não tem mais a utilidade a qual foi destinado.
É fácil doar uma roupa, um calçado, um objeto que não serve ou há algum tempo não é utilizado...

Mas e o desapego emocional?
Como deixar ir, partir, sair, escapar alguém que desejamos tão perto?
Como sentir escorrer pelos dedos?
É desistência?
É abrir mão?
É não tentar mais nada?

Não falo de relacionamentos saturados, cansados e rotos pela indiferença ou desamor.
Mas daqueles que ainda não aconteceram ou que estão na fase inicial de conhecimento.

Como desapegar-se dele?
Como não pensar como seria?
Como deixar de imaginar cada momento?

Respira-se fundo que ele passa?
Desaparece se fechar os olhos?

Não funciona assim...

Mantem-se o cérebro oxigenado, deixa o ar subir e descer pelas narinas, o pulmão cheio de ar e depois expulsando ele, mas a imagem não some...
Os olhos fecham-se e a mente povoa de imagens, os olhos abrem-se e a frustação da ausência se faz maior.

Um exemplo simples,  imagine isso:
Uma tela abre-se e uma imagem se forma, nela mil cores, sensações e aromas surgirão.
Um rosto sorrindo aparece, quanta alegria ao redor dos lábios e olhos, contagiando tudo a sua volta!
E projetando esse rosto em um balão, ele escapa dos dedos... e vai subindo rumo ao céu infinito, levando consigo a alegria que permanecerá lá para sempre, naquele rosto.
E ver esse rosto e essa imagem, darão a certeza que a partida - necessária, também foi uma doação.
Doou-se um amor infinito, capaz de desapegar e deixar partir alguém que precisa ir encontrar e alegrar outros rostos.

Daí se um dia, perceber que o seu lugar é bem perto de quem lhe quer somente o bem.... voltará com o sorriso mais alegre e radiante desse mundo. 
Mas sem ser esse o objetivo e a força que lhe moverá, a vida seguirá e o coração terá tantas outras alegrias e rostos pelo caminho. 
Desapego... doação.... permanecerão apenas as melhores lembranças...

¹ a natureza essencial de cada experiência nada é senão a própria mudança.
 

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